Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E sei que um dia estarei mudo:
- mais nada
(Cecília Meireles)
E lógico que esta poesia não poderia ser minha.
30.10.09
22.10.09
Por mais gago
Que eu seja, formar-se-ão palavras na minha boca.
Talvez sem muito sentido, sem tanta ordem
Mas simples e sinceras... ainda que não fáceis.
Falarei sempre do que me acompanha,
Um pouco acanhado no ínicio, que seja
Mas não envergonhado.
Porque o que de mim vejo sempre perto
Não pode me dar maior alegria,
Sinto só por não fazê-lo caber em palavras.
Mas enquanto eu continuar pequeno,
Cabendo na palma de sua mão
Caberei em ti e me satisfaço
Nas tuas palavras, que em minha boca virão
Não importa o quão gago eu seja
Talvez sem muito sentido, sem tanta ordem
Mas simples e sinceras... ainda que não fáceis.
Falarei sempre do que me acompanha,
Um pouco acanhado no ínicio, que seja
Mas não envergonhado.
Porque o que de mim vejo sempre perto
Não pode me dar maior alegria,
Sinto só por não fazê-lo caber em palavras.
Mas enquanto eu continuar pequeno,
Cabendo na palma de sua mão
Caberei em ti e me satisfaço
Nas tuas palavras, que em minha boca virão
Não importa o quão gago eu seja
15.10.09
À procura da Arte
Ouviu o homem um sussurro estranho, que entrou por seu ouvido no vibrar de uma frequência estranha, retumbando e batendo estranhamente dentro de sua cabeça, até chegar na mente e se dissolver junto de todos os seus conhecimentos anteriores. O chão parecia frio. Cinza e frio. Mas desenhava o andar de cada pessoa que um dia passou por lá, seus pés, seus jeitos, o que falavam, o que sentiam. O ar estava carregado de história e quando assim percebeu, pareceu-lhe que ia sufocar, tamanho peso e importância do simples ar. Tudo parecia iluminado por igual, e por um momento, todas as pessoas eram iguais. Não em aparência, ou em personalidade (seria muita pretensão afirmar isto), mas algo as unia, como uma necessidade só, de toda a humanidade. Via neles algo que parecia seguir a vida de cada um. Todas as pessoas eram iguais, debaixo de uma só perspectiva.
Em seu momento de epifania, pôs o lápis a sambar e riscar o papel em branco. Mas tudo que lhe saia não expressava em nada o que via. Tentou desenhar, mas a luz era indecifrável e de repente viu-se frustrado por não saber o que era bom ou ruim, o que seria genial como seus pensamentos, ou simples farsa, que passa de um dia para o outro, sem ser importante para ninguém, para momento algum. Afinal, o que é a arte?
Seus anos já não eram tão curtos - tinha filhos, esposa, tios, tias mãe e pai. Já vira tanto que nem se podia guardar: lembrou-se do momento em que fez, pela primeira vez, um importante gol no time da escola. A alegria lhe extasiava e nunca houve mais um segundo sequer que tivera tantos amigos, tantas paixões e fosse tanto amado, como naquele momento em que a bola cruzou, por inteiro, a linha do gol adversário. Pegou-se devaneando na sua primeira namorada e como aquilo lhe causara tamanha vergonha. Mas ao lembrar-se de seus tempos imaturos, sorriu por ter sido um tempo necessário. Veio-lhe à mente, então, o instante que primeiro passara dos limites com amigos no bar, pode revolver o álcool que lhe entorpecia qualquer tipo de pensamento, o movimento leve e lento das mãos, a risada vazia e ecoante, como também o buraco posterior em sua alma - nunca mais faria coisa do tipo... até a semana seguinte. A vida passou mais um pouco, e sua quarta namorada (que viria a ser a sua companheira para o resto de sua vida, a que podemos confirmar) já visitava seus parentes e sentiu-se pela primeira vez intimidade, viu nela aquilo que queria para sempre, mas que por muitas vezes esqueceu que tanto a desejara. O medo de ser pai e segurar no colo a vida a qual dele proviera - e seu esômago gelou. Outros tantos momentos passaram atropelando outros, de modo indistinguível. Conseguiria fazer arte com tudo que já lhe foi oferecido na vida? Seria arte a representação da sua pessoa, em toda a sua abundância? Ou a completa negação desta?
Viu, por fim, um completo desinteresse no humano. Este já não lhe parecia mais atrente e encantador. Soava-lhe um ser tão mesquinho e pequeno, cheio de necessidades e... frágil. Muito do que pensavam era completa estupidez, e diante de todo o seu ser fracassado, embriagavam-se de orgulho e arrogância, negando olhares para aquele que tiveram menos sorte, reclamando autonomia do Universo, e impondo todo tipo de ideologia, como se fossem os verdadeiros inventores da sabedoria. Mas basta uma chuva, um escorregão... e todo pensamento, sorte, orgulho, riqueza, ideologia e sabedoria caem por terra, com o homem debaixo dela. O homem é um ser tão fraco e passageiro. Pode arte sair de suas mãos?
Saiu da escada a qual observava o mundo sem uma respota. Procurou nos prédios, ares, flores e belezas. Definiu, então, que arte é aquilo que agrada o homem - completamente plausível: a arte provoca no ser humano os mais variados sentimentos que lhe causam um certo conforto, lhe deixam morno e lhe inspiram felicidade. Contentou-se com sua conclusão, mas então viu as ruas, a gente, e as casas. Seus olhos pareciam tão diferentes, tantas coisas que lhe pareciam ocultas - e o incomodavam agudamente - sobressairam-se à sua vista e sentiu grande depressão. Definiu que arte deveria confrontar os erros, a falta de respeito e a falta de lugar. Tudo que estivesse errado, deveria ser acusado, em plena corte fantástica, pela arte. Sentiu mais firmeza em sua razão, porém... como unir esta definição à anterior? Olhou para o lado e lá estavam dois bêbados, que em sua gritaria e risos descontraídos, abordavam com palavras todos à sua frente, enquanto andavam pela calçada. Muitas palavras extremamente desnecessárias foram proferidas, porém algumas outras grandemente curiosas, que despertavam revolta. Seria o absurdo também arte? Teria ele lugar junto do Belo, e do Justo? Seria o retrato da incerteza e confusão do homem algo a ser elevado como arte?
A definição que antes lhe parecia certa, agora escapava por entre seus dedos. Até que... Lembrou-se daquilo que ligava toda a humanidade. E tudo pareceu, então, desconfortavelmente claro. Seria uma linda resposta, mas ao mesmo tempo, o desmascaria por completo, deixando transparente para o mundo.
Viu-se, pela primeira vez, totalmente indefeso... encontrou a arte.
Em seu momento de epifania, pôs o lápis a sambar e riscar o papel em branco. Mas tudo que lhe saia não expressava em nada o que via. Tentou desenhar, mas a luz era indecifrável e de repente viu-se frustrado por não saber o que era bom ou ruim, o que seria genial como seus pensamentos, ou simples farsa, que passa de um dia para o outro, sem ser importante para ninguém, para momento algum. Afinal, o que é a arte?
Seus anos já não eram tão curtos - tinha filhos, esposa, tios, tias mãe e pai. Já vira tanto que nem se podia guardar: lembrou-se do momento em que fez, pela primeira vez, um importante gol no time da escola. A alegria lhe extasiava e nunca houve mais um segundo sequer que tivera tantos amigos, tantas paixões e fosse tanto amado, como naquele momento em que a bola cruzou, por inteiro, a linha do gol adversário. Pegou-se devaneando na sua primeira namorada e como aquilo lhe causara tamanha vergonha. Mas ao lembrar-se de seus tempos imaturos, sorriu por ter sido um tempo necessário. Veio-lhe à mente, então, o instante que primeiro passara dos limites com amigos no bar, pode revolver o álcool que lhe entorpecia qualquer tipo de pensamento, o movimento leve e lento das mãos, a risada vazia e ecoante, como também o buraco posterior em sua alma - nunca mais faria coisa do tipo... até a semana seguinte. A vida passou mais um pouco, e sua quarta namorada (que viria a ser a sua companheira para o resto de sua vida, a que podemos confirmar) já visitava seus parentes e sentiu-se pela primeira vez intimidade, viu nela aquilo que queria para sempre, mas que por muitas vezes esqueceu que tanto a desejara. O medo de ser pai e segurar no colo a vida a qual dele proviera - e seu esômago gelou. Outros tantos momentos passaram atropelando outros, de modo indistinguível. Conseguiria fazer arte com tudo que já lhe foi oferecido na vida? Seria arte a representação da sua pessoa, em toda a sua abundância? Ou a completa negação desta?
Viu, por fim, um completo desinteresse no humano. Este já não lhe parecia mais atrente e encantador. Soava-lhe um ser tão mesquinho e pequeno, cheio de necessidades e... frágil. Muito do que pensavam era completa estupidez, e diante de todo o seu ser fracassado, embriagavam-se de orgulho e arrogância, negando olhares para aquele que tiveram menos sorte, reclamando autonomia do Universo, e impondo todo tipo de ideologia, como se fossem os verdadeiros inventores da sabedoria. Mas basta uma chuva, um escorregão... e todo pensamento, sorte, orgulho, riqueza, ideologia e sabedoria caem por terra, com o homem debaixo dela. O homem é um ser tão fraco e passageiro. Pode arte sair de suas mãos?
Saiu da escada a qual observava o mundo sem uma respota. Procurou nos prédios, ares, flores e belezas. Definiu, então, que arte é aquilo que agrada o homem - completamente plausível: a arte provoca no ser humano os mais variados sentimentos que lhe causam um certo conforto, lhe deixam morno e lhe inspiram felicidade. Contentou-se com sua conclusão, mas então viu as ruas, a gente, e as casas. Seus olhos pareciam tão diferentes, tantas coisas que lhe pareciam ocultas - e o incomodavam agudamente - sobressairam-se à sua vista e sentiu grande depressão. Definiu que arte deveria confrontar os erros, a falta de respeito e a falta de lugar. Tudo que estivesse errado, deveria ser acusado, em plena corte fantástica, pela arte. Sentiu mais firmeza em sua razão, porém... como unir esta definição à anterior? Olhou para o lado e lá estavam dois bêbados, que em sua gritaria e risos descontraídos, abordavam com palavras todos à sua frente, enquanto andavam pela calçada. Muitas palavras extremamente desnecessárias foram proferidas, porém algumas outras grandemente curiosas, que despertavam revolta. Seria o absurdo também arte? Teria ele lugar junto do Belo, e do Justo? Seria o retrato da incerteza e confusão do homem algo a ser elevado como arte?
A definição que antes lhe parecia certa, agora escapava por entre seus dedos. Até que... Lembrou-se daquilo que ligava toda a humanidade. E tudo pareceu, então, desconfortavelmente claro. Seria uma linda resposta, mas ao mesmo tempo, o desmascaria por completo, deixando transparente para o mundo.
Viu-se, pela primeira vez, totalmente indefeso... encontrou a arte.
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