Era uma tarde fria
Num dia de chuva que não caía
A água e o Sol suspensos
Só o último dando seus gracejos
Um pássaro de asas largas
Chegava alto e rápido no Sol e água
Mas de um jeito, mantinha
Fechada sua vontade de voar
Podia a qualquer momento
Abrir, soltar, saltar
Mas o medo o prendia certo
Numa gaiola sem cadeado
E todos os bixos em baixo:
"vem água, vem água, vai pássaro!"
Foi numa tarde fria
De dia onde chuva não caía
Que o pássaro saiu do chão
Passou pela porta que não o prendia
Chegou nos altos, sem mais ninguém
Conversou com o Sol e as nuvens também
E a água caiu
Os dias mudaram
[nem liguem para os dois posts seguidos sobre pássaros, pura coincidência]
26.8.10
8.8.10
Miracle
A lonely bird sat
On the top of a single tree
It has wide sharp eyes
But nothing, though, it sees
No expectations,
No worries at all,
But there's no starvation
Be it winter or fall
On the top of a single tree
It has wide sharp eyes
But nothing, though, it sees
No expectations,
No worries at all,
But there's no starvation
Be it winter or fall
2.8.10
O Experimento - Caos
Ele já esperava-o com um copo na mão. Sentou-se na banqueta ao lado e fez sinal ao barman, que respondeu com um "quanto tempo! O mesmo de sempre?". Fez que não, e escolheu sua bebida. O homem, que não se movera até então, virou o rosto adornado por um leve sorriso enjoado e recebeu o recém-chegado:
- Realmente, quanto tempo... entendo que a viagem foi demorada. E perigosa. Mas, diga-me, como foi?
- Não vale a pena.
- Mesmo? Só isso?
O outro respondeu com a cabeça, logo após tomar um gole amargo e descansar seu chapeu no balcão. Voltou os olhos para seu interlocutor e confirmou:
- Não vale nada.
Num misto de surpresa e frustração, o homem balançou a cabeça:
- Não faz sentido! Nós achávamos que...
- O que nós achávamos - interrompeu o outro - não valia nada. Depois de um suspiro, continuou, "é tudo vazio como o branco e imprevisível como o negro. É um ambiente por demais hostil para o humano, sem expectativas de uma grande vida. De fato, nossa teoria não confere.
Depois de uma breve pausa, o homem adicionou, ainda inconformado:
- Isso é completamente irracional! Homens expostos ao prazer contínuo deveriam experimentar uma vida completa e feliz!
- Não foi o que aconteceu. Descobri ser praticamente impossível fazer um homem feliz -tomou mais um gole e seguiu relatando. Manipulei praticamente todas as situações que causavam prazer para o meu primeiro objeto: comecei com comidas, bebidas e entretenimento em mídia, como estudamos, porém o resultado se distanciava muito do objetivo, ele sentia-se inseguro e solitário. Dei-lhe sensação de segurança e criei oportunidades para que ele satisfizesse suas necessidades sexuais e relacionais. Os resultados foram positivos no começo, mas rapidamente o objeto sentiu-se entediado e buscava sempre algo novo, inquieto e, mais uma vez, inseguro.
- Insegurança parece ser um grande desafio para essa espécie.
- Com certeza. Aprendi que eles são extremamente instáveis em seu humor, dependentes do jeito que acordam, daqueles ao seu redor, do ambiente e até do clima!
- É possível que tais condições resultem em reações químicas, afetando assim o humor do objeto?
- Na maioria das vezes, não. Há, obviamente, extremos como a completa inadequação climática, que fazem o corpo humano trabalhar em condições adversas, causando desconforto. Aliás, o extremo é uma característica marcante nos humanos - tomou o último gole e parou por uns instantes, pensativo, como se apenas agora chegasse a essa conclusão. Em todas as situações a que o objeto foi exposto, ele persistia na fonte de prazer, sugando dela o máximo possível - como se essas coisas tivessem um limite de prazer a oferecer. Talvez isso que estimulasse o tédio do objeto, o constante desespero por uma sensação maior que a anterior. Parece-me que há algo invisível dentro do ser humano que faz com que ele tenda para o caos.
- Interessante... mas eles rejeitam a ordem?
- De forma alguma. Em várias áreas de suas sociedades eles tem a ordem em grande estima.
- Mas tendem ao caos?
- Sim...
- Realmente, quanto tempo... entendo que a viagem foi demorada. E perigosa. Mas, diga-me, como foi?
- Não vale a pena.
- Mesmo? Só isso?
O outro respondeu com a cabeça, logo após tomar um gole amargo e descansar seu chapeu no balcão. Voltou os olhos para seu interlocutor e confirmou:
- Não vale nada.
Num misto de surpresa e frustração, o homem balançou a cabeça:
- Não faz sentido! Nós achávamos que...
- O que nós achávamos - interrompeu o outro - não valia nada. Depois de um suspiro, continuou, "é tudo vazio como o branco e imprevisível como o negro. É um ambiente por demais hostil para o humano, sem expectativas de uma grande vida. De fato, nossa teoria não confere.
Depois de uma breve pausa, o homem adicionou, ainda inconformado:
- Isso é completamente irracional! Homens expostos ao prazer contínuo deveriam experimentar uma vida completa e feliz!
- Não foi o que aconteceu. Descobri ser praticamente impossível fazer um homem feliz -tomou mais um gole e seguiu relatando. Manipulei praticamente todas as situações que causavam prazer para o meu primeiro objeto: comecei com comidas, bebidas e entretenimento em mídia, como estudamos, porém o resultado se distanciava muito do objetivo, ele sentia-se inseguro e solitário. Dei-lhe sensação de segurança e criei oportunidades para que ele satisfizesse suas necessidades sexuais e relacionais. Os resultados foram positivos no começo, mas rapidamente o objeto sentiu-se entediado e buscava sempre algo novo, inquieto e, mais uma vez, inseguro.
- Insegurança parece ser um grande desafio para essa espécie.
- Com certeza. Aprendi que eles são extremamente instáveis em seu humor, dependentes do jeito que acordam, daqueles ao seu redor, do ambiente e até do clima!
- É possível que tais condições resultem em reações químicas, afetando assim o humor do objeto?
- Na maioria das vezes, não. Há, obviamente, extremos como a completa inadequação climática, que fazem o corpo humano trabalhar em condições adversas, causando desconforto. Aliás, o extremo é uma característica marcante nos humanos - tomou o último gole e parou por uns instantes, pensativo, como se apenas agora chegasse a essa conclusão. Em todas as situações a que o objeto foi exposto, ele persistia na fonte de prazer, sugando dela o máximo possível - como se essas coisas tivessem um limite de prazer a oferecer. Talvez isso que estimulasse o tédio do objeto, o constante desespero por uma sensação maior que a anterior. Parece-me que há algo invisível dentro do ser humano que faz com que ele tenda para o caos.
- Interessante... mas eles rejeitam a ordem?
- De forma alguma. Em várias áreas de suas sociedades eles tem a ordem em grande estima.
- Mas tendem ao caos?
- Sim...
Assinar:
Postagens (Atom)