Ele já esperava-o com um copo na mão. Sentou-se na banqueta ao lado e fez sinal ao barman, que respondeu com um "quanto tempo! O mesmo de sempre?". Fez que não, e escolheu sua bebida. O homem, que não se movera até então, virou o rosto adornado por um leve sorriso enjoado e recebeu o recém-chegado:
- Realmente, quanto tempo... entendo que a viagem foi demorada. E perigosa. Mas, diga-me, como foi?
- Não vale a pena.
- Mesmo? Só isso?
O outro respondeu com a cabeça, logo após tomar um gole amargo e descansar seu chapeu no balcão. Voltou os olhos para seu interlocutor e confirmou:
- Não vale nada.
Num misto de surpresa e frustração, o homem balançou a cabeça:
- Não faz sentido! Nós achávamos que...
- O que nós achávamos - interrompeu o outro - não valia nada. Depois de um suspiro, continuou, "é tudo vazio como o branco e imprevisível como o negro. É um ambiente por demais hostil para o humano, sem expectativas de uma grande vida. De fato, nossa teoria não confere.
Depois de uma breve pausa, o homem adicionou, ainda inconformado:
- Isso é completamente irracional! Homens expostos ao prazer contínuo deveriam experimentar uma vida completa e feliz!
- Não foi o que aconteceu. Descobri ser praticamente impossível fazer um homem feliz -tomou mais um gole e seguiu relatando. Manipulei praticamente todas as situações que causavam prazer para o meu primeiro objeto: comecei com comidas, bebidas e entretenimento em mídia, como estudamos, porém o resultado se distanciava muito do objetivo, ele sentia-se inseguro e solitário. Dei-lhe sensação de segurança e criei oportunidades para que ele satisfizesse suas necessidades sexuais e relacionais. Os resultados foram positivos no começo, mas rapidamente o objeto sentiu-se entediado e buscava sempre algo novo, inquieto e, mais uma vez, inseguro.
- Insegurança parece ser um grande desafio para essa espécie.
- Com certeza. Aprendi que eles são extremamente instáveis em seu humor, dependentes do jeito que acordam, daqueles ao seu redor, do ambiente e até do clima!
- É possível que tais condições resultem em reações químicas, afetando assim o humor do objeto?
- Na maioria das vezes, não. Há, obviamente, extremos como a completa inadequação climática, que fazem o corpo humano trabalhar em condições adversas, causando desconforto. Aliás, o extremo é uma característica marcante nos humanos - tomou o último gole e parou por uns instantes, pensativo, como se apenas agora chegasse a essa conclusão. Em todas as situações a que o objeto foi exposto, ele persistia na fonte de prazer, sugando dela o máximo possível - como se essas coisas tivessem um limite de prazer a oferecer. Talvez isso que estimulasse o tédio do objeto, o constante desespero por uma sensação maior que a anterior. Parece-me que há algo invisível dentro do ser humano que faz com que ele tenda para o caos.
- Interessante... mas eles rejeitam a ordem?
- De forma alguma. Em várias áreas de suas sociedades eles tem a ordem em grande estima.
- Mas tendem ao caos?
- Sim...
Ahhh...
ResponderExcluirJuro que viajei aqui...
Pensei em aliens, e tudo mais...
rsrsrs...
mas enfim, a idéia do teu texto é muito boa.
Tu me pareces um rapaz muito novo, para idéias tão grandes e profundas.
Deves ser muito sábio.
Mas, concordo. A tendência para o caos, é uma lei universal...E nós, bem, temos urgência por ele, ao que me parece.
Beeijo...
bem sabemos dessa tendencia e como dói.
ResponderExcluirLembra a música do Rappa:
ResponderExcluir"A minha alma tá armada e apontada para a cara do sossego.
É pela paz que eu não quero seguir admitindo..."
Enquanto a alma não ouvir a voz que realmente põe ordem no caos, era continuará não admitindo a paz.
Bj e Qj