Olhava o dia azul-claro da janela, deitado em sua cama. Mãos entrelaçadas atrás da cabeça e sonhos se entrelaçando atrás dos olhos. Não posso dizer sobre o que sonhava... é secreto. Porém, posso dizer-lhes que se sentou, olhou os tênis e percebeu que um estava desamarrado. Abaixou-se, e ao entrelaçar dessa vez os cadarços, surgiu uma ideia, que o fez pular da cama e sair pela porta do quarto, sempre de olho na janela.
Subiu na bicicleta e saiu de encontro à rua. Pedalou por alguns quarteirões e chegou enfim a uma praça. O coração pulsava junto de seus pensamentos. Procurou por entre as flores, aquela que desejava, mas não estava ali. A frustração correu-lhe pelas veias, mas escolheu não deixar-se abater: pegou outra, talvez não fosse tão bonita quanto em seus sonhos, mas era com certeza a mais bonita naquela realidade.
Montou novamente na bicicleta e saiu rumo ao seu próximo destino. A viagem foi um pouco mais longa (não morava muito perto do centro daquela pequena cidade), mas não demorou muito já estava lá, escolhendo o presente ideal. Ficou satidefito com um belo colar dourado, fino e delicado (como ela), com um pingente em forma de Lua. Era perfeito! Exatamente como ela dizia em seus momentos juntos "O que me faz sempre me acalmar é ver a Lua lá no alto, intocável e vigilante... não há mais nada o que temer". Mas o ideal não pode ser alcançado. O preço era extremamente alto, muito mais do que ele sonhava em pagar. Sendo assim, pediu por um broche em formato de gato, o melhor que pode comprar com o pouco dinheiro que dispunha.
Saiu a pedalar de volta para casa, flor e broche na mão, ansioso em pensar que efeito surtiria sua ideia. Tão ansioso que distraiu-se. Distraiu-se e caiu. A roda derrapou de lado ao passar por um buraco, fazendo pernas, mãos e cabeça darem cambalhotas pelo ar. E sim, broche e flor também. O menino ainda se virou a tempo de ver o broche escorregando para dentro do ralo do bueiro, e foi como se ele mesmo caísse de um penhasco, quebrando o corpo inteiro. Baixou a cabeça em desânimo, apenas para descobrir que rolara por cima da flor, que se encontrava amassada debaixo de sua perna. A vida do menino por um momento desabou, afinal, naquele momento os presentes eram sua vida. E teve vontade de voltar a cabeça aos céus e praguejar contra mundo inteiro. Não dava para ser assim... tão... tão injusto!
Levantou a bicicleta, pegou a flor amassada no chão e saiu mancando. Deu ainda uma última olhada pelo bueiro, como se na esperança que o broche ainda estivesse milagrosamente por ali. Não estava. Foi levado pelas águas, assim como todos os seus planos, devastados. Chegou em casa admitindo derrota e foi lentamente para o quarto da irmã doente. Ele não percebia, mas já caiam lágrimas dos olhos, que permaneciam baixos, guiando apenas os pés, reparando em cada detalhe do chão, como se em algum lugar houvesse uma solução. Chegou na porta e segurou a maçaneta, parando por uns instantes, ouvindo seu próprio respirar. Abriu a porta já dizendo:
- Desculpe! Eu tentei fazer o meu melhor, fiz o que pude... mas eu tropecei... levou tudo... não consegui... - e esperou.
- O que você está dizendo? Eu adorei! Obrigada...
O menino, surpreso, levantou os olhos pela primeira vez e viu: a flor favorita dela, junto do broche em formato de Lua... estava tudo lá, por algum motivo...
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