20.6.10

Beleza de mudar

Mudar de corpo carece
De um sentimento novo?
Sim, mas não só.
Precisa mesmo é da pele
Nova, folhada, revestida
De pouco em pouco trocada
Na dor da faca profunda
Que rasga a gordura,
E tinge o rosto.
O rosto de outro,
Do mesmo que pego pele
Que visto sobre mim
Sobre a carne macia,
Exposta e vulnerável.

No fim, sou outro?
Na verdade, no meio...

9.6.10

Treze, Quatro, Oito

Minhas pequenas mão se lembram
Do toque enevoado na razão,
Quando do desespero a semente
Caiu nas terras minhas, úmidas e aradas.
Cresceu ali um pé-de-choro,
Com flores de tormento.
Maior, mais larga que as demais plantas,
Sugava delas seu alimento.
O golpe do machado ressoava:
"em vão... em vão... em vão"
Enquanto assistia suas sementes,
Se espalhando por todo o chão.

Pedi aos céus uma ajuda qualquer,
Que me consolasse um pouco o coração;
Veio, só, uma seca das brabas,
Perdi tudo que tinha na plantação.
Restava apenas a maldita árvore,
Que zombava do meu rosto em prantos.
Ao céu se ergueram os olhos;
Minha boca: raivosa, calada...
O desespero me vencera:
Perdi ali minha morada.

Aos poucos, porém...

Da árvore, o riso zombeteiro sumiu;
Seus galhos todos afrouxaram;
E o vento dizia: "caiu... caiu... caiu".
A lâmina, enfim, completou seu trabalho,
Enquanto via o saudoso vento
Carregar nas suas velhas costas
Grão, chuva e sustento.
Minhas grandes mãos recordam
De cada um desses feitos;
Se voltam ao contente céu estrelado:
"Obrigado... obrigado... obrigado"

3.6.10

de vez em quando

De vez em quando
Vem, só, na gente
vontade louca
de se rasgar.
Rasgar o verbo,
rasgar a carne,
de tanta gente,
de tanto Homem,
até a nossa
há de acabar.

Vem d'outro lado
Maneira forte,
que nos assalta
sem nenhum medo
de se errar.
"Coitado!", eu digo
de nossa gente,
dos nossos Homens:
que jeito tem
pra se ganhar?

Moleza nossa
é que não é:
é impossível
arredar pé.
Sozinho não
dá-se um jeito.
Pode tentar:
não tem efeito.
Pra terminar,
te digo isso:
solução só
é Jesus Cristo