3.7.09

O Baile de máscaras

Um dia me disseram: não confie em suas próprias palavras.
O problema, é que eu confiei.
Elas chegaram, todas em exuberantes vestidos, colares de prata e ouro, pérolas nos pulsos, me dizendo tudo o que queria ouvir. E, ao proferir as primeiras palavras (para me vangloriar, claro), alguma coisa estava muito errada. Elas pareciam combinar com o ambiente, com as luzes, o palco, a platéia, mas alguma coisa nelas... não era a cor, era outra coisa, elas estavam estranhas... elas simplesmente não estavam no tom certo. Saíram todas confiantes, dançantes, mas aqueles que entendiam do assunto não se enganavam e viam que eram grandes farsas, sem sentido, sem... recheio, por assim dizer.

Não era para ser assim.

Juro que não fiz por mal, eu... não sei, pareciam extremamente propícias, eu...
Corri para o maestro que regia uma música que eu nem mesmo ouvia e clamei-lhe "Por favor, mude o tom! Mude o tom! Não sei o que fazer, elas não estão no tom certo, não era para ser assim, eu queria de outro jeito, juro! Eu as vi dançando escadas abaixo e cantando numa melodia que... estão exatamente como imaginei... O senhor deve estar errado, o senhor..." E, então, ouvi.


[a música...]


Meu rosto tornou-se vermelho e senti vergonha do meu terno. O que estava fazendo ali? Aquela música era perfeita, trazia as exatas notas carregadas cada uma de tamanha harmonia, como se todas as outras músicas no universo fossem meras tentativas de a imitar. Cada som (e pausa) trazia consigo todo o sentido contido em toda Terra. Todas aquelas vezes que você se alegrou porque não havia fila para comprar o café, toda vez que seu time fez um gol ou que o seu amor o beijou. Estavam todos contidos ali (e muito mais, eu só não sei descrever o mundo inteiro num texto...)
Olhei de novo para minhas palavras, dançando em volta dos convidados, ao redor dos gigantes lustres de vidro. Algumas pessoas as admiravam e até soltava-se umas palmas de vez em quando, mas... o que mais? eram bonitas, mas... o que é isso, comparado ao mundo?
Minhas mãos embranqueceram, e lágrimas chegaram aos olhos.
O dono da música me passou um papel.
"Por que não tenta agora, partindo da minha música... só acompanhe!"

Digo que... foi tudo diferente.
Acho que nunca mais fiz palavras tão belas quanto as daquele dia. E, para ser sincero, não gostei de todas as que fiz desde então. Algumas tem rugas, outras machucados, umas até saem suaves e graciosas, loiras e temerosas (daquele tipo fácil de se apaixonar...), mas nem todas são assim (e de certo, nenhuma carrega o peso das jóias daquelas princesas de outrora). Mas, vem cá... não somos todos assim? imperfeitos... e cheios de sentidos que nem imaginamos? Para uma palavra ser carregada de sentido, ela tem de ser humana. Pois, como falarei a humanos, dizendo palavras de príncipe? Quem as entenderá?
Só se pode chegar a um humano, de forma... humana.
Um Deus relacional só existe, se um dia ele foi humano...

5 comentários:

  1. suspiro... é assim que reagi, depois de lê-lo.

    ResponderExcluir
  2. Salve salve!!!
    nossa levi, que profundo...
    Perdi-me no seu baile,
    senti minhas palavras misturadas ás suas, às do mundo inteiro....
    Pude escutar a música, vê-lo desesperado ao longe...Sentí-me tocada pela sua comoção...
    Admirada com as suas palavras...
    Muito lindo o seu texto...
    PS: Aproveite o Mar!!!
    rsrsrsrs....É bom demais...

    ResponderExcluir
  3. Muitíssimo bom! ;]
    (queria fazer um comentário mais legal e criativo, mas é que foi tão 'sem palavras'...)

    ResponderExcluir
  4. caaaaaaaaaaara!mto lindo o seu escrito!
    senti-me enlevada com suas palavras...
    abração;)

    ResponderExcluir
  5. oi!!!
    vc falou tudo!!!
    infelizmente não se pode adormecer o amor...
    lastimável...
    rsrsrsrsr
    corações em caixas com espadas...
    beijoO querido paulista.

    ResponderExcluir