Tinha uma vida normal. Estudos, trabalhos, amigos, e tudo o que uma pessoa normal teria. Mas uma coisa o diferenciava dos outros: Às noites, tinha encontros com a morte. Não todas as noites, mas boa parte delas, se sentava na cama e esperava ela vir, e na maioria das vezes já sabia que ela viria aquela noite, pois seu cheiro chegava antes que sua presença. Algumas outras vezes, ela que esperava por ele, e sempre que se encontravam, o semblante dele tornava-se sério, abatido. Não chegavam nem a se tocar, e só algumas vezes eram necessárias trocas de palavras (se um dia encontrares com a morte, verás que a presença dela já fala por si só):
- Sabes, amigo, seu lugar é comigo... não mereces vida...
- Não sou amigo, não marquei encontro...
- Mas quis...
Seu descanso era no dia, pois a noite o incomodava e desgastava sua alma. E quanto mais longe da noite ficava, mais tranquilo estava seu coração. E aquelas noites em que ela não vinha, aí sim ele desfrutaca do sono, da paz, e porque não de amor...
Um dia, aproximando-se do quarto, sentiu seu cheiro peculiar, doce e venenoso. Sentiu raiva e cerrou os punhos. Não dava... Não dava para continuar assim... bateu o pé e seguiu em frente, quando abriu a porta, paralisou. A morte vinha no seu mais ludibriante disfarce, e o seduzia a uma conversa. Os olhos dele fitaram-na por mais alguns instantes e depois escaparam ao chão. Muito se passava na sua cabeça, e a lógica não mais o acompanhava. Até que um grito de socorro de uma alma aprisionada dentro dele se ouviu, nos ecos do grande buraco que aquele venenoso encontro lhe cavava todas as noites em seu coração. E da primeira vez que o som fez-se ouvir, os olhos se fecharam bem apertados, acompanhados das mãos (e da mente), e depois de passados alguns minutos, se abriram em fogo, encarando a morte com a demanda que tanto quisera quando são: "Sai..."
Ela o olhou, assutada, e tentou soltar um riso despreocupado, mas a apreensão já lhe tomara de vez. "Sai, ou..." - a ameaça se repetia.
- Ou o quê? - desafiou-o, curiosa. Mas assim que se deparou com a resposta, suas mãos seguraram-se no apoio mais próximo para não se desequilibrar, e saiu em disparada pela janela, sem antes tropeçar num tênis jogado no chão.
Assim que ela saiu, o silêncio tomou o lugar ocupado antes por tensão, e o ar ficou leve. Sentou na cama... e chorou, chorou pelos buracos já feitos na sua alma... Até que um outro cheiro entrou no quarto, e, olhando para cima assustado, teve um novo encontro com um novo alguém, que dizia "todo buraco pode ser tampado..."
"O Amor é mais forte do que a morte" Ct 8:6
Gostei do texto.
ResponderExcluirFinal esperançoso...
:)
Beijos, rapaz.
Onde está, ó morte a sua vitória?
ResponderExcluirAinda que eu ande pelo seu vale, não temerei mal algum...
Muito bom Levi...
ResponderExcluirPois da morte me livraste a alma... para que eu ande na presença de Deus, na luz da vida!